A limitação da pessoa com deficiência ou autismo não impede desejos. Educação sexual, amor, compreensão.
Anote as dicas da psicóloga Sandra Vieira
Discutir e encarar a sexualidade das pessoas com deficiência é discutir o preconceito e a falta de informação sobre as limitações de alguém. Fácil não é, afirmam os especialistas. Aliás, não poderia ser mesmo: se há dois assuntos que rendem muito, esses são sexualidade e deficiência. Juntos, já era de se esperar que provocariam muitas dúvidas e polêmicas. Antes de qualquer tipo de discussão, vale a regra: as pessoas com deficiência se diferem das que não possuem deficiência pelas limitações físicas, psíquicas, motoras. Somente. Não perdem a "humanidade" de qualquer jovem ou adulto.
Pessoas que andam de cadeira de rodas, que têm síndrome de down ou qualquer outra limitação, sentem desejos, vontades e constroem reações de afeto como qualquer outra. E apesar de claro, não é bem isso que a grande maioria da população pensa ou até mesmo os pais aceitam. "Pode ser que seja mais difícil sim. E não deixo de entender os pais que têm medo do que pode vir a acontecer. Mas não podemos privar ninguém do direito à sua sexualidade. Sempre há formas de se evitar desconfortos", comenta a psicóloga Sandra Vieira.
Para a psicóloga, o medo dos pais e o grande pudor que a sociedade ainda impõe sobre o assunto sexo faz com que eles, na grande maioria das vezes, tendam a encarar seus filhos como eternas crianças, imaginando que os estão protegendo da sua própria libido. "Isso é mais comum do que se possa imaginar.
Pais não querem deixar a criança crescer e nem encarar de frente algo que faz parte da sua humanidade. Há que se ter maturidade para lidar com a sexualidade, entender as diferenças disso nas pessoas com deficiência para programar uma educação sexual", completa.
Para a psicóloga, é possível entender que a família tenha uma certa desconfiança e que cuide muito para que o filho ou filha não sofra nenhum tipo de abuso, já que essa situação, infelizmente, também apresenta números significativos. Pessoas de promiscuidade muito forte ou mesmo pedófilos, tendem, segundo informações da especialista, a aproveitar da ingenuidade de pessoas com determinadas limitações, principalmente mentais, para fazer seu aliciamento. E nessa triste estatística, as mulheres lideram o ranking.
Sandra conta que conhece histórias de pais que já deram até remédios para acabar com a libido dos filhos, afirmando que eles, sem entendimento, se masturbavam em qualquer lugar. "Mas não é assim que se resolve, né? Sexo também é saúde, é vida, a gente precisa do orgasmo", enfatiza a psicóloga.
Educação Sexual
Conversar, orientar e construir na familiaridade uma relação de confiança é o principal segredo para ajudar quem possui alguma limitação a lidar com a sexualidade. Segundo Sandra, os pais têm total condição de estabelecer esse vínculo e, caso acreditem que a situação é um pouco mais complexa, devem procurar um profissional especializado.
"Inteligência não tem nada a ver com deficiência", frisa a psicóloga. A construção de uma "maturidade sexual" é, portanto, plenamente possível. "O problema é que os pais tendem a fingir que nada aconteceu. Que dá pra adiar. Quando chegam ao meu consultório, a situação já está naquele ponto - 'eu não sei mais o que fazer, doutora'".
É preciso que os pais levem as filhas ao ginecologista, segundo Sandra, já que essa é uma visita médica que não está só relacionada à prática do sexo. A orientação sexual começa também no exemplo que os pais dão com a preocupação com a saúde dos filhos e deles mesmos. Também vale a regra dos ensinamentos sobre o uso da camisinha e de anticoncepcionais.
"É importante desenvolver a idéia de limites", frisa Sandra. Para deficientes mentais, autistas, ou outros casos de deficiência, não há maldade nas conotações sexuais. "Se ele entende que quando tem vontade de tomar água, vai lá e toma, ele entende também, que se sentiu desejo, pode ir lá e se masturbar", completa a psicóloga.
Uma dica de Sandra é que os pais, em alguma situação constrangedora como a da masturbação, por exemplo, não brigue, nem xingue, nem, faça nada que possa deixar a pessoa traumatizada, ou sem entender a situação. Para ela, é preciso retirar o filho ou filha daquele lugar público, e o levar para um lugar privado.
"Só assim ele começa a entender onde é o lugar certo, e onde é o lugar errado. Que vai acontecer a masturbação, vai, porque acontece com pessoas com e sem deficiência. Resta só ensinar onde é adequado e onde não é", comenta Sandra.
Fonte: Acessa.com Fernanda Leonel
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