09 março 2010

Autismo faz o trânsito parar

No Brasil, a cada 500 nascimentos, uma criança é autista

Sulamita Rosa

Ontem, foi realizada mais uma Blitz do Autista, no Posto da Polícia Rodoviária da BR-040. O evento foi uma iniciativa do Movimento Orgulho Autista do Brasil (MOAB) e da Associação dos Amigos dos Autistas (AMA-DF) em parceria com a Coordenadoria para Inclusão da Pessoa com Deficiência do Distrito Federal (Corde-DF). A Polícia Rodoviária Federal (PRF) deu apoio ao evento. Os organizadores do movimento aproveitaram a comemoração do dia da mulher para direcionar atenção às mulheres autistas.
Para chamar atenção da população brasiliense e do governo sobre a síndrome, os voluntários distribuíram mil panfletos informativos a respeito do autismo aos motoristas que passavam pela BR e eram parados pela PRF. As mulheres também receberam uma rosa vermelha. “Se mil panfletos desses forem os responsáveis pela identificação de uma pessoa que sofre da síndrome, já é um avanço”, declarou a diretora de eventos da MOAB, Maria Lúcia Ferreira Gonçalves, conhecida por Mara.
O autismo é uma doença conhecida pela disfunção global de desenvolvimento e pode ser desenvolvida na infância em qualquer pessoa. O material distribuído explicava os sintomas e características que uma criança pode desenvolver se for portadora da síndrome. A principal delas é a dificuldade de se relacionar desde o inicio da vida, como por exemplo, não olhar nos olhos de outras pessoas.As crianças autistas também apresentam dificuldades em aprender a linguagem, apego inadequado a objetos, crises de choro e extrema angústia sem razão, ausência de medo a perigos reais.
Mara declara que o investimento com políticas públicas para os autistas não é importante apenas para o portador e sua família, mas, também para o governo. “Se o governo não investe hoje no desenvolvimento dessas pessoas, fica muito mais caro no futuro, porque essas pessoas passam a depender dos outros a vida toda”, declara. “O tratamento desde a infância torna o autista um adulto produtivo e independente”, revela.
A intenção da distribuição de panfletos é, além de chamar a atenção, trazer o conhecimento da doença à sociedade. Segundo Fernando Cotta, presidente da Corde-DF, não existe exame que diagnostica o autismo. “Não existe um exame que detecta a doença. O autismo é descoberto por meio da observação do comportamento da criança. Se ela tiver seis das características informadas ela pode ser autista”, revelou.
Foi o caso do filho de Fernando. Ele e a esposa descobriram a doença no filho, que tinha na época com apenas três anos de idade, por meio da observação. “Ele começou a apresentar pouco desenvolvimento, não falava na hora certa, fazia brincadeiras estranhas, não sabia dizer o que queria, então fomos procurar atendimento médico por que sabíamos que tinha algo errado”, contou.
Segundo ele, o mais difícil foi diagnosticar a doença. “Procuramos vários médicos e pediatras e nenhum tinha conhecimento do que estava acontecendo. Foi no sexto atendimento que fomos encaminhados para um neurologista e descobrimos que ele era autista”, revela.
Atualmente, com apenas oito meses de idade, já é possível descobrir a doença. O tratamento é feito com terapias como ecoterapia, hidroterapia e terapias ocupacionais, além do tratamento especial à criança. Mas, segundo Cotta, os autistas ainda sofrem com a discriminação e com o descaso do governo e da sociedade “A cada 500 nascimentos no Brasil, uma criança é autista. É um número muito grande. A criança autista precisa de tratamento específico para se desenvolver”.
O movimento já foi premiado com o 2° Prêmio Orgulho Autista em 2006. A Blitz do Autista existe desde 2005.

POLÍTICAS PUBLICAS
Para Nidia Aparecida, presidente da Associação dos Amigos Autistas (AMA-DF) o que mais faltam são políticas públicas, para ampliar o atendimento aos autistas. Ela conta que atualmente a AMA, atende cerca de 22 autistas no DF, mas que o objetivo é fazer da Instituição uma potência. “O objetivo é criar o Projeto Residência que dará um lugar para portadores da doença que não tem onde ficar”, explica. Atualmente, a AMA atende pessoas com o nível mais grave da síndrome, aquelas que não são independentes.

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