29 janeiro 2010

Síndrome de Asperger e TOC – comorbidade ou unidade?

Comportamentos repetitivos, estereotipias e interesses restritos são alguns dos principais sintomas que compõem o transtorno de Asperger. Todavia, até que ponto é possível diferenciá-los de sintomas obsessivo-compulsivos que preencham critérios para transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)? Muitas vezes, não é possível. Este trabalho relata o caso de um paciente com síndrome de Asperger e TOC. Abordamos até que ponto é realmente importante a distinção de um TOC como comorbidade distinta do Asperger, bem como nossa conduta terapêutica, na qual um inibidor seletivo da recaptura de serotonina (ISRS) em doses altas (fluoxetina) foi fundamental para melhor adaptação do paciente a suas funções socioocupacionais, melhorando significativamente sua qualidade de vida.

De acordo com o DSM-IV TR, os indivíduos com transtorno de Asperger têm um comprometimento importante da interação social, padrões repetitivos do comportamento e interesses restristos, sem haver atraso clinicamente significativo do desenvolvimento cognitivo e da linguagem (American Psychiatric Association, 2000). Em conceitos práticos, essas características resumem esta condição a um quadro semelhante ao transtorno autista, porém com a inteligência preservada, levando alguns autores a incluírem a síndrome de Asperger no "autismo de alto desempenho" (Gillberg, 2002).

Vários transtornos podem ainda associar-se a síndrome de Asperger, chegando ao ponto de alguns autores afirmarem que uma comorbidade provavelmente estará presente uma vez que o diagnóstico de Asperger esteja feito (Gillberg e Billstedt, 2000). Estas podem ser TDAH, depressão, TOC, entre outras (Blacher et al., 2003). E considerando que os sintomas principais de alguns desses transtornos também fazem parte da síndrome de Asperger, acaba se tornando difícil diferenciar o que seria uma manifestação desta de uma comorbidade.

Ao se falar especificamente da relação entre TOC e síndrome de Asperger, fica evidente o problema em distinguir a primeira da última (respectivamente) como um diagnóstico em separado (Blacher et al., 2003; Gillberg, 2002). Aceita-se que quando as obsessões, as compulsões e os rituais tornam-se graves e incapacitantes, o diagnóstico de TOC como uma comorbidade deve ser feito (Gillberg, 2002).

Indepentemente de se querer determinar as barreiras entre TOC e Asperger, é de suma importância identificar sintomas obsessivos-compulsivos graves que sejam passíveis de tratamento específico, como demonstrado no caso clínico descrito. Considerando esse fato, os ISRS são a melhor abordagem, sendo muitas vezes necessárias doses altas (Blacher et al., 2003; Gillberg, 2002).

Vale salientar que não existe tratamento específico para a síndrome de Asperger, mas os pacientes podem se beneficiar de um manejo adequado das comorbidades e de um bom tratamento sintomático. Freqüentemente se faz necessário o uso de antipsicóticos (especialmente os "atípicos") para redução da agitação, do comportamento agressivo e dos maneirismos (Blacher et al., 2003; Gillberg, 2002).

Ainda é escasso o número de estudos que avaliam a incidência e a prevalência do transtorno de Asperger, bem como de suas comorbidades. Entretanto, considera-se que a chance da presença de uma comorbidade ser alta, e por vezes traz maior prejuízo e sofrimento do que a própria síndrome de Asperger. Há ainda o fato de que muitas vezes o diagnóstico é dificultado pela interposição de sintomas. Em relação ao TOC, muitas vezes a distinção é feita pela intensidade dos sintomas. Foi o ocorrido com o paciente do caso clínico apresentado, no qual o diagnóstico de TOC comórbido foi estabelecido, necessitando tratamento específico, que obteve execelente resultado. Concluímos que a fluoxetina pode ser útil na abordagem do Asperger, visto que mais importante do que se discutir os limites entre esta síndrome e o TOC, é fundamental administrar a terapêutica específica para os sintomas obsessivos-compulsivos, que, por vezes, são o principal problema do paciente.

Achei interessante este artigo, pois Matheus tem apresentado um tipo de Toc, não fiz exames para saber se é isso, por enquanto só especulo ser.Fiquei preocupada e acho que muitos pais ficam angustiados de verem seus filhos com algum tipo de "tic nervoso", algo que se repete várias vezes ao dia e que nos deixa realmente preocupados, nas minhas pesquisas não achei muita coisa, apenas esse artigo fala mais claramente.

Paz a todos


24 janeiro 2010

Autismo para abordar os limites da linguagem

Malu Galli estreia na direção com texto de Sinisterra que usa o autismo para abordar os limites da linguagem

RIO - A atriz Malu Galli nunca havia pensado em dirigir, até que, ao ler um texto inédito do autor espanhol José Sanchis Sinisterra, "A máquina de abraçar", cenas surgiram em sua mente, umas atrás das outras. Numa peça em que o autismo é o mote, Malu pensou imediatamente em desestabilizar alguns códigos teatrais em sua montagem, que o público poderá ver a partir desta quinta-feira (24.09) no galpão do Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico.

Para começar, a encenação ocorre em dois palcos: um para a autista, outro para sua terapeuta. As duas contam suas experiências num congresso médico. Mas elas se encontram, circulam pelo corredor entre duas fileiras de cadeiras, que, apesar de presas ao chão, são rotatórias, para que o espectador possa acompanhar as cenas em diferentes espaços. Antes da apresentação, o público entra numa espécie de saguão poético, uma pequena exposição pensada pelo artista plástico Raul Mourão (também responsável pelo cenário), com obras de Nino Cais, Eduardo Coimbra e Chelpa Ferro.

- Sinisterra usa o autismo, que tem uma diferença na forma de apreender o mundo, para falar da arbitrariedade da linguagem, de como ela é insuficiente. Ela nunca dá conta das coisas. Também quis dar ao espectador a experiência de outra organização, outras formas de linguagem, outro modo de assistir à peça - explica Malu, que há dois anos encenou "Diálogos com Molly Bloom", de Sinisterra, dirigida por cinco diretores, incluindo o espanhol.

Interpretada por Mariana Lima, a autista é livremente inspirada na americana Temple Grandin, PhD em biologia que aprendeu a se comunicar com o mundo criando códigos próprios de associação em imagens concretas, já que o autista tem dificuldade com a abstração. O nome da peça parte de uma máquina de fato criada por Temple para "abraçar" o gado antes do abate - uma invenção que usa para si mesma, já que o autista tem dificuldade com o toque.

Leia a íntegra da reportagem na edição digital do GLOBO

21 janeiro 2010

O Poder dos Jogos Infantis

Por: Evelyn Vinocur - Neuropsiquiatra e psicoterapeuta no Rio de Janeiro

Existe coisa melhor do que sentar com o seu filho pra brincar? Do que reunir a família e jogar? A hora do jogo é um momento sublime, onde as energias se somam, onde a vivacidade fica aguçada, onde a gente aprende a ganhar e perder, a ver a alegria da criança ao estar ali saboreando a presença dos seus queridos... pra quem já passou por essa fase, se lembra do bem-estar de brincar de fazer castelo de areia na praia? De jogar dominó com o papai?

Jogar faz bem. Alimenta a alma. Ainda mais nos dias de hoje, com tanta correria, muitas famílias estão perdendo o tempo pra jogar em família. Cada vez mais, vemos jogos solitários, que também são bons, mas não suprem a intimidade e a união que os jogos em família fazem aflorar.

Tem sido mais e mais freqüente as queixas de crianças reclamando que os pais têm cada vez mais tempo pra elas, e uma das melhores formas de estar junto, é jogar. Vamos aproveitar e pegar um pouquinho do nosso tempo pra jogar com aqueles que a gente ama. Mas jogar é bom de qualquer jeito com amigos, com a nossa turma e com nossos colegas. Jogar sozinho também é bom. O jogo faz nascer potencialidades de dentro da gente, faz surgir idéias novas, inovadoras, faz a gente querer ganhar, descobrir, intuir, ter metas e objetivos e onde querer chegar. E tudo isso é muito bom para desenvolver aquilo que chamamos de funções executivas, que são nossas vontades voluntárias voltadas à realização de um objetivo. Já jogou em dupla? Que legal né? A gente aprende instintivamente a fazer boas parcerias, a saber como é ter um bom parceiro.

Quem joga, ativa as funções mentais, a performance global de vida, capacidade de se ter um rendimento global maior na vida. É bem verdade que como tudo na vida, tudo tem que ter a sua hora, o seu limite. O jogo também nos ensina a hora de parar. A lidar melhor com os nossos limites. A ficar bem, mesmo quando vemos o nosso parceiro ganhar. Você sabe que daqui a pouco vem a sua vez de ganhar também. O jogo atua no auto-conhecimento. Jogando, você vai notar que você, ou seu filho ou o parceiro do jogo recorrentemente apresenta falta de concentração ou coordenação motora, ou como está o seu estado emocional. Quem nunca jogou com aquele cri-cri que fica enfurecido ou desmantela o jogo quando ele está perdendo? O jogo é uma ferramenta de medição e aferição do nosso estado emocional. É a partezinha que aflora, que todo mundo vê, que nem a pontinha de um grande iceberg...

Você sabia que já na antiguidade, os Egípcios, Romanos e Maias utilizavam os jogos como meio de aprendizagem de valores, conhecimentos e normas sociais?

Mas então, porque tanta gente reclama dos jogos, que o filho fica horas jogando pra fugir das obrigações e etc? Até onde o jogar é um benefício ou um prejuízo à saúde dos nossos pequenos? Essa polêmica divide francos opositores e ferrenhos adeptos. Como tudo na vida, antes de qualquer coisa o equilíbrio. Não é dos jogos que a gente reclama, mas sim dos excessos. Excesso de tudo é muito prejudicial mesmo. De todo modo, universais e presentes em todas as culturas, os jogos constituíram desde sempre uma forma de atividade inerente ao ser humano, exercendo sobre ele um fascínio inexplicavelmente compreensível e muito sedutor. Ainda que algumas pessoas considerem o ato de jogar supérfluo, ele torna-se uma necessidade e um elemento vital para o equilíbrio social, cultural e psíquico do ser humano.

Segundo uma ótica sociológica, os jogos proporcionam elementos importantes à construção da personalidade e conseqüentemente à construção do conhecimento: a familiarização com o êxito, o que desenvolve a autoconfiança e segurança; a libertação de sentimentos de agressividade e frustração, de forma natural, criativa e até terapêutica. Ao jogar, a criança e o adolescente têm acesso a cultura da sua Sociedade, ao mesmo tempo em que a recria, sempre estabelecendo relações sociais com os outros. E mais, o jogo pode trazer à tona questões inconscientes e medos recalcados, facilitando o autoconhecimento das próprias emoções e do mundo interior de cada pessoa.

Desta forma, é patente que o jogar, de forma espontânea, é um elemento crucial para um processo educativo que tem como foco a autonomia do ser. Em geral, um pouco de jogo vai deixar a criança, o adolescente ou o adulto mais sociável além de melhorar o seu relacionamento interpessoal. É de praxe que suas habilidades visuo-espaciais, resolução de problemas e tarefas, rapidez de pensamento e raciocínio lógico fiquem bem mais afiadas . De igual modo, todas as habilidades atentivas e de concentração também ficam mais aguçadas.

Os jogos despertam a curiosidade da criança, são sedutores e promovem criatividade e produção de arte. Inúmeros são os atributos do jogo, todos estando de algum modo interligados entre si: representação do real versus o imaginário; manejo de dúvidas e conflitos; resolução de problemas e saber priorizar; habilidades sociais e funções executivas; determinação, perseveração e controle dos impulsos, manejo dos determinismos e aleatoriedade; segurança, confiança e auto-estima; correr risco; analise estratégica e intuição, e muito, muito mais...

Então aproveite!

Estudo em bebês promete desvendar os mistérios do autismo


Matai, no colo de sua mãe, Gemma, assiste aos estímulos visuais

Um bebê de quatro meses participou de um estudo inédito que vai ajudar psicólogos e cientistas a entender como algumas doenças cerebrais se desenvolvem, como o autismo. O pequeno Matai Reid foi monitorado por cientistas da Durham University, na Inglaterra, que avaliaram como seu cérebro respondia a diferentes imagens em movimento quando ele olhava para a tela de uma televisão. Para isso, ele teve de usar um engenhoso capacete com sensores que mediam e gravavam sua atividade cerebral.

Segundo Dr. Vincent Reid, psicólogo da Durham University, ainda não se sabe o suficiente sobre como o cérebro de bebês muito pequenos reage a certas coisas. Em entrevista ao tablóide britânico Daily Mail, ele afirma: “É vital nós entendermos este funcionamento para conseguir identificar problemas e atrasos no desenvolvimento, e assim conseguir diagnosticar mais precocemente doenças como o autismo”. Gemma Reid, a mãe do bebê, concordou em emprestar seu filho para o bem da ciência: “O simples ato de observar como os bebês se desenvolvem já ajuda a aprender como funcionam algumas doenças cerebrais”. Ela conta que Matai gostou de participar do procedimento, que, segundo o dr. Reid, “não é doloroso, invasivo e nem prejudicial para a criança”. Ele afirma que ele e sua equipe simplesmente estão analisando o cérebro do bebê a partir de uma perspectiva acadêmica.

A National Autistic Society (Sociedade Nacional do Autismo, na Inglaterra) descreve o autismo como uma deficiência no desenvolvimento que dura a vida toda. Pessoas que sofrem da doença tem dificuldades para se interagir e se comunicar socialmente. O próximo passo dos psicólogos é procurar mais crianças, acima de dois anos, para participar do experimento.

A RIADIS se solidariza com o povo Haitiano

COMUNICADO SOLIDÁRIO:

A Rede Latino-Americana de Organizações Não Governamentais de Pessoas com Deficiência e suas Famílias (RIADIS) expressa sua mais profunda solidariedade perante a grave tragédia que padece agora, o povo irmão do Haiti.

Na terça-feira passada, 12 de janeiro, o Haiti e, particularmente sua capital, Porto Príncipe, se viu assolado por um terremoto de grau 7,2 na escala Richter.Milhares de pessoas ficaram sepultadas, mortas ou feridas debaixo dos escombros de milhares de edificações, que não puderam resistir ao ataque da natureza.

O Haiti, país mais pobre do hemisfério, a partir dessa gravíssima catástrofe, se vê ainda mais pobre. Uma das mais graves seqüelas deste sismo é que deixa a intempérie, a fome e a desolação a uma grande parte dos nove milhões, que constituem a população desse país caribenho.

É muito possível que milhares de pessoas com deficiência tenham sido e sejam vitimas impotentes desta dolorosa tragédia. Assim mesmo, é certo que uma das conseqüências diretas desta catástrofe será o aumento do número de pessoas com deficiência no Haiti.

No passado, a RIADIS buscou contato com organizações haitianas de pessoas com deficiência para apoiar-las em seus esforços em melhorar as condições de vida das pessoas com deficiência deste país, mas infelizmente, esses esforços não tiveram sucesso.

Nessa difícil e trágica hora para a América Latina e Caribe, quando o primeiro país de nossa região que lutou e ganhou sua independência sofre essa tragédia, a RIADIS faz um forte chamado à Comunidade Internacional para que as manifestações de apoio do presente se mantenham e se ampliem, ao teor da magnitude da catástrofe no Haiti. É necessário ainda, que este apoio solidário perdure por todo o tempo que o povo haitiano necessite e que não se debilite com o passar dos dias e semanas.

Os povos do mundo e seus Governos não devem, não podem esquecer-se do povo haitiano.

É o nosso mais sincero desejo, como organização latino-americana, que se avance rapidamente na estabilização da situação nesse país do Caribe. Resgatando os sobreviventes dos escombros, atendendo aos milhares de feridos nos hospitais, sepultando as pessoas falecidas, atendendo eficientemente à propagação de epidemias e oferecendo alimentos e abrigo aos milhares de desabrigados.

São os primeiros passos essenciais, antes de começar a trabalhar com muito esforço (Comunidade Internacional, povo e Governo), na reconstrução do Haiti, para que avance na superação da pobreza, consolide sua democracia e se desenvolva pacificamente.

A RIADIS se compromete hoje, em realizar seus maiores esforços para apoiar o fortalecimento ou criação de organizações de pessoas com deficiência no Haiti, para que desde nossa visão e experiência, a atenção aos direitos das haitianas e dos haitianos com deficiência, esteja devidamente incluída na agenda da reconstrução e renascimento deste país latino-americano irmão.

Esperamos que muitas organizações, entidades cooperantes e pessoas, nos acompanhem para materializar em fatos este propósito e compromisso profundo da RIADIS.

Rede Latino-Americana de Organizações Não Governamentais de Pessoas com Deficiência e suas Famílias (RIADIS) http://www.riadis.net/riadis-em-acao-5/

O terremoto da pobreza


A tragédia do Haiti não é só produto da natureza; é resultado da incúria humana e da corrupção

João Coutinho - Folha de S. Paulo - 19/1/2010 - Ilustrada

LISBOA TREMEU em 1755. O Grande Terremoto horrorizou a Europa culta e pôs Voltaire a pensar. Onde estaria Deus? Sim, onde estaria Deus naquele Dia de Todos os Santos para permitir a matança indiscriminada de mulheres, velhos, crianças?

No século 18, Lisboa deixou de ser, entre os homens letrados do Iluminismo, uma mera cidade. Passou a ser, como Auschwitz no século 20, o símbolo do mal. Do mal radical, inominável, inexplicável.

Passaram 250 anos. Lisboa deixou de tremer. Ou quase: umas semanas atrás, nas primeiras horas da madrugada, senti a casa a dançar um "twist". Durou segundos. Alguns livros no chão, um copo partido. Por momentos, ainda pensei que talvez fossem os meus vizinhos em reconciliação amorosa.

Não eram os vizinhos. Os alarmes dos carros estacionados na rua desmentiam com estridência qualquer cenário romântico. Era terremoto, confirmaram as notícias. Nível 6 na escala Richter. Nenhum morto. Nenhum ferido. Nenhuma interrogação sobre Deus.

Exatamente o contrário do sucedido no Haiti. Incontáveis mortos. Incontáveis feridos. E, nos jornais da Europa, textos pseudofilosóficos sobre o papel do divino. O tom era comum. A tese também: a natureza é insondável.

Difícil discordar. Mas a tragédia do Haiti não é apenas produto de uma natureza insondável. É o resultado da incúria humana; da corrupção; da miséria material; e da tirania.
Eis a tese apresentada em ensaio fundamental para entender a contabilidade macabra dos desastres naturais. Foi publicado em 2005 por Matthew Kahn em revista do prestigiado MIT. Intitula-se "The Death Roll from Natural Disasters: the Role of Income, Geography, and Institutions" (a lista da morte por desastres naturais: o papel da renda, da geografia e das instituições).

O objetivo de Kahn não é metafísico; é bem prático. E foi motivado por crença comum, que vi repetida nos últimos dias: por que motivo os desastres naturais só atingem nações pobres?

Kahn começa por provar que uma crença não passa disso mesmo. Entre 1980 e 2002 (o arco temporal do estudo), a Índia teve 14 grandes terremotos. Morreram 32.117 pessoas. No mesmo período, os Estados Unidos tiveram 18 grandes terremotos. Morreram 143 pessoas. Iguais conclusões são extensíveis aos 4.300 desastres naturais do período em análise e às suas 815.077 vítimas. Observando e comparando 73 países (pobres, médios e ricos), a conclusão de Kahn é arrepiante: os grandes desastres naturais distribuem-se equitativamente pelo globo.

O que não se distribui equitativamente pelo globo é o número de mortos: países com um PIB per capita de US$ 2.000 apresentam uma média de 944 mortos por ano. Países com um PIB per capita de US$ 14 mil, uma média de 180 mortes. Moral da história? Se uma nação de 100 milhões de pessoas consegue subir o seu PIB de US$ 2.000 para US$ 14 mil, isso resulta numa diminuição de 764 vítimas por ano.

Mas a análise não se fica pela riqueza. Não se fica apenas pelos países que têm maior capacidade para planificar com rigor, construir com segurança e socorrer com rapidez. A juntar à riqueza, a política tem uma palavra a dizer.
A política, vírgula: a democracia e a boa governação. A disparidade dos mortos não é só imensa entre países ricos e pobres; também o é entre países democráticos e não democráticos. Em países democráticos, onde os governantes são julgados pelos seus constituintes e vigiados por uma imprensa livre, a forma como se planifica, constrói ou socorre é o verdadeiro teste de sobrevivência para esses governantes. O número de mortos em países democráticos é, mostra Kahn, incomparavelmente inferior aos mortos anônimos dos regimes ditatoriais/autoritários.

No Haiti, um terremoto com 7,1 graus na escala Richter trouxe devastação inimaginável e dezenas de milhares de mortos. Em 1989, um terremoto com 7,1 graus na escala Richter provocou 67 vítimas nos EUA. Nenhum espanto: os EUA não têm um PIB per capita de US$ 1.400 e não foram governados por "Papa Docs", "Baby Docs" e outros torcionários para quem o destino do seu povo era indiferente desde que a rapina pudesse continuar.

Em 1755, quando o terremoto de Lisboa fez tremer a Europa, ficaram célebres as palavras do marquês de Pombal: é hora de enterrar os mortos e cuidar dos vivos. No século 18, era impossível dizer melhor. No século 21, impossível é dizer pior. Depois de enterrar os mortos e cuidar dos vivos, só existe uma forma de mitigar a violência da natureza: enriquecendo e democratizando.

19 dezembro 2009

Língua Gestual: Os desenhos do professor Francisco Goulão


Francisco Goulão, 58 anos, é professor de Educação Visual no Instituto António Cândido, no Porto. Trabalha diariamente com crianças surdas.

Com os seus alunos faz desenhos e cria histórias em que a língua gestual está em destaque. A autoria dos desenhos é dos alunos e de Francisco Goulão, que tem criado outros projectos semelhantes, sempre baseados na linguagem gestual, como «Descobrir Portugal», «Porto» ou «Branca e o Lobo Mau».

Francisco Goulão Surdo-mudo 58 anos
Professor de surdos há mais de 32 anos
Licenciado pela Universidade de Lisboa
actualmente, professor no Instituto António Cândido Porto

18 dezembro 2009

Senador comprometido com a causa da gente autista

Arthur Virgílio reafirma seu compromisso com a causa dos autistas

| Agência Senado | 15/12/2009 |

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) disse nesta terça-feira (15), durante a homenagem ao bicentenário de Louis Braille, que encampa "com muita fé a luta dos deficientes físicos por cidadania". Ele relatou a experiência que o levou a se aproximar da causa das famílias com filhos autistas, com a qual acabou firmando "um forte compromisso".

Arthur Virgílio disse que, antes de conhecer mais de perto os autistas e seus familiares, classificou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "autista", recebendo, na ocasião, um "puxão de orelhas merecido" da então senadora Heloísa Helena, do senador Flávio Arns (PSDB-PR) e da presidente da Associação dos Amigos dos Autistas do Amazonas (AMA), Thelma Viga, por usar o autismo em sentido pejorativo. Ele ainda recebeu dezenas de e-mails com reclamações, conforme informou.

O senador disse que, diante disso, aceitou o convite da presidente da AMA para conhecer a instituição e os autistas lá atendidos, tendo, a partir daí, entrado na vida deles, "que é uma vida absolutamente fascinante".

Arthur Virgílio disse que os autistas são absolutamente focados e aprendem sem estudar. Assim, aquele que sabe informática, sabe mais que todo mundo; o que sabe matemática faz cálculos mais rapidamente do que qualquer outro. O senador citou, especialmente, um menino da AMA que nunca errou um arremesso à cesta de basquete e outro que decidiu um play off nos Estados Unidos, fazendo uma cesta no último segundo da partida.

O parlamentar ressaltou a coragem daqueles que conseguem vencer as dificuldades e construir sua vida.

http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=98426&codAplicativo=2

Créditos: Crônica Autista

15 dezembro 2009

Beatriz Padovan: “Da curiosidade à vontade de ajudar”

Fonoaudióloga e criadora do método Padovan, Beatriz já viajou o mundo divulgando como ajudar pacientes com síndromes, paralisia cerebral e acidente vascular cerebral

Por Anna Ruth Dantas

Conhecida mundialmente por ter criado o Método Padovan, a fonoaudióloga Beatriz Padovan é uma referência no tratamento de crianças e adultos com síndromes, paralisia cerebral, vítimas de Acidente Vascular Cerebral. O modelo de tratamento que ela desenvolveu é focado na reconstrução” das fases do desenvolvimento, atuando na organização do sistema nervoso.

A eficácia desse método é comprovada pela proliferação dele no mundo todo. Desde 1979 Beatriz Padovan ministra cursos em países europeus ensinando o modelo de tratamento. A fonoaudióloga ressalta que o centro de todo trabalho não é a doença, mas o ser humano, o próprio paciente.

“Uma criança que tem um retardo no seu desenvolvimento você pode curá-la com o método. Ou uma pessoa que tenha tido um derrame cerebral, você pode levá-la a ter uma vida normal outra vez, depende da extensão, da lesão, depende do tempo”, destaca a criadora do método, que esteve em Natal para ministrar um curso a convite da fonoaudióloga Yara Caldas.

E, acreditem, todo esse trabalho de Beatriz Padovan surgiu por curiosidade. Ela trabalhava como professora em uma escola pública quando percebeu que cinco alunos não acompanhavam o aprendizado. Informada que se tratava de um caso de Dislexia, a então educadora foi em busca de descobrir como tratar a doença. Começava aí todo o processo de descoberta que viria, mais tarde, a originar o Método Padovan.

É com toda autoridade de quem desenvolveu o método, que Beatriz afirma: o Rio Grande do Norte é referência nesse trabalho para o Norte e Nordeste. Inclusive é no Estado potiguar que está instalado o Centro Nordestino Padovan.

Continua.
A entrevista segue no site, clique no link título

Especiais vencem o preconceito

Priscilla Castro - Repórter

“Eu voltei a sonhar”. A frase é do estudante José de Arimatéia, de 26 anos, portador de deficiência. O desabafo é consequência da realização de um sonho que ele já tinha abandonado e só acreditou ser real quando se viu dentro de uma sala de aula. Ele tem paralisia cerebral, mas, apesar de não ter coordenação sobre os braços e as pernas, tem total domínio sobre a fala e, principalmente, sobre os sonhos. Por isso, Arimatéia sabe que pode imaginar um futuro bem diferente do que foi seu passado.

Aluno da Escola Estadual Lia Campos, em Natal, José de Arimatéia conta que passou a se sentir igual às outras pessoas depois que entrou na escola. “Foi a partir de uma reportagem que eu vi no Fantástico sobre um deficiente que ganhou as Olimpíadas de Matemática, que eu pensei que também poderia ter essa chance. Se ele conseguiu, porque eu não poderia conseguir? E tudo mudou na minha vida, a dignidade, a auto-estima. O estudo e o trabalho dignificam o homem, não é?”, disse.

Outro estudante da Escola Lia Campos que merece destaque pela força e vontade de estudar é Arinaldo Ferreira, de 28 anos. E essa história é ainda mais emocionante porque até os 16 anos, Arinaldo correu e brincou na calçada de casa como os outros meninos. Depois de uma fratura mal tratada na perna, Arinaldo ficou com problemas na coluna e teve uma depressão pela morte do avô, o que resultou em uma doença chamada de espondilite anquilosante. Depois de 11 anos longe da escola, desejando voltar para uma sala de aula, ele teve a oportunidade de realizar o sonho e está concluindo o Ensino Médio.

“Em 2008, uma amiga minha foi até à Secretaria de Educação e contou a minha história porque eu tinha muita vontade de voltar a estudar. Aí uma equipe visitou minha casa, fizeram uma avaliação e conseguiram uma escola para mim. Eu sentia muita falta de estudar porque sem estudo não somos ninguém”, disse.

Porém, nem todos os momentos foram de sorrisos e Arinaldo conta que enfrentou preconceito. “Como eu fiquei muito tempo fora da escola, eu tinha dificuldade em acompanhar as aulas e sempre tinha um grupo que ficava rindo. Fora isso, eu noto muita indiferença das pessoas, mas eu sei que onde eu estiver, isso vai existir. Eu tenho que tirar isso de letra”, desabafou.

Mas Arinaldo também tem outras coisas a agradecer, entre elas, as novas amizades. A amiga Kátia Rejane é uma das que faz questão de acompanhar os estudos e incentivar Arinaldo a não desistir dos sonhos. “Quando ele me liga triste ou preocupado porque não vai poder vir à aula e pensa em largar tudo, eu converso com ele e o convenço a pensar direitinho”, disse se emocionando ao relembrar as dificuldades já enfrentadas pelo amigo.

E elas também agradecem a Arinaldo pelos ensinamentos e experiências. A colega de sala Rejane Inácio, de 50 anos, conta que nunca teve uma experiência do tipo. “Eu nunca tinha convivido com um deficiente e para mim, foi uma verdadeira lição de vida”. Andreia Guedes disse que se espelha no amigo nos momentos em que falta esperança. “Quando eu penso em desistir, me espelho em Arinaldo e penso que se ele, que tem tantos problemas, consegue, porque eu não conseguiria?”. Essa é, inclusive, uma das propostas da inclusão nas salas de aula: a troca mútua de benefícios.

No final da entrevista, Arinaldo fez um pedido especial à reportagem: que publicássemos uma mensagem de sua autoria, para que outros portadores de deficiência se espelhem. O texto é o exemplo de que os sonhos não devem morrer. “Quando o Sol chegar na sua vida, agradeça a Deus pelo novo amanhecer. E dê graças a Ele por tudo que ele fez por nós”, Arinaldo Ferreira.

Continua no link Título.

Associação de apoio aos autistas quer ajuda para desenvolver seus trabalhos

(foto: FERNANDO OLIVEIRA/APPACDM)

Paula Machado
Repórter

A Anda - Associação norte mineira de apoio aos autistas, formada por trinta famílias e profissionais especializados, com dois fonoaudiólogos, uma psicopedagoga e uma pedagoga, faz um mês de aniversário e oferece aulas de capacitação gratuita a professores ou interessados, a fim de orientá-los como lidar com o autismo.

De acordo com a presidente da associação, Márcia Sergy Avozani, muitas crianças que têm esse problema não estão nas escolas, devido à falta de informação sobre o assunto e a falta de preparo dos professores e escolas para receber esses alunos especiais.

- Muitas escolas aceitam essas crianças porque são obrigadas, devido à lei de inclusão. As escolas têm realizado muitos projetos para tratar das deficiências físicas, auditivas, visuais, mas não quanto à deficiência mental - afirma.

O ensino destinado aos autistas deve ser adaptado de acordo com a necessidade de cada um.

De acordo com ela, já foram realizados dois cursos na cidade para promover a capacitação de professores, para que possam saber lidar com a doença e garantir um aprendizado de qualidade para os alunos que sofrem de autismo.

- A príncípio estamos correndo atrás de capacitação para esses profissionais, estamos em uma sede provisória no bairro Todos os Santos, problema que por enquanto foi solucionado, pois não tínhamos lugar algum para realizar nossas reuniões, mas desenvolvemos nas escolas um acompanhamento escolar para as crianças com autismo - ressalta.

Segundo a presidente da associação, uma psicopedagoga, de Belo Horizonte, vem à cidade de Montes Claros, a cada dois meses e aplica nas escolas as atividades adaptadas para cada aluno, pois conforme Macia informa, não há um modelo padrão de ensino a seguir, cada autista tem suas dificuldades e necessidades que devem ser tratadas de maneira diferenciada.

- Esse trabalho de funcionamento já funciona na escola João e Maria, no bairro Esplanada, onde meu filho estuda, na escola Montessori Pedaçinho do Céu, onde estuda quatro crianças autistas que participam da associação, na Marista São José, onde tem duas crianças e no Imaculada Conceição, também com duas crianças. Percebo que essas escolas estão tentando proporcionar também a esses alunos um ensino melhor e de qualidade, pois participaram das capacitações – enfatiza.

Márcia afirma que ainda não há um levantamento preciso de quantas crianças autistas existem em Montes Claros, mas afirma que é um assunto que tem despertado muito interesse nas pessoas e servido de fonte de pesquisas para muitas faculdades.

Ela afirma que reuniões já haviam sido realizadas entre as famílias antes do surgimento da associação buscando soluções para este problema, desde novembro de 2008, e algumas famílias conforme a presidente diz se conheceram através da palestra da fonoaudióloga Vanessa que apresentou uma palestra no colégio Marista São José no ano passado.

- Sabemos de mais vinte famílias com crianças autistas e estamos tentando correr atrás para cadastra-las - revela.

O AUTISMO

O autismo é uma síndrome de transtorno evasivo de desenvolvimento que limita à criança nas questões sociais, na linguagem e no comportamento, e está presente desde o nascimento, se manifesta aos 18 meses de idade, período em que os pais começam a detectar que os filhos possuem algum tipo de problema.

- Ainda não se sabe a cauda e nem a origem da doença, desde 1911 é estudada, mas existem diversas teorias, como por exemplo, de que seria transmitida através da genética. Na associação sempre buscamos entrar em contato com especialistas e laboratórios, como o laboratório Son Rise, nos Estados Unidos – informa.

Como características presentes nos autistas ela cita as alterações de sono, quietude ou choro excessivo, aversão ao contato físico, ausência de imitação dos gestos dos pais, contato ocular ausente ou de forma atípica quando ainda são bebês.

- Ainda são observadas estereotipias, gestos estranhos e ecolalia, repetição do que se escuta risos e gargalhadas inoportunas, bem como choros e angústias inexplicáveis, dificuldade na fala e apego a rotinas e rituais – explica.

Mas a presidente ressalta que não são necessárias todas as características para se identificar o autismo, e que cada autista tem características que lhe são peculiares.

- É importante ressaltar que existem vários graus de autismo, onde as manifestações podem ocorrer de forma leve, moderada, grave ou severa, existem vários métodos de trabalhar com o autista, dentre os quais há o método ABA, o PECS e O teaacch - diz.

Pessoas que não conseguem reconhecer rostos: PROSOPAGNOSIA

Trata-se de um distúrbio neurológico que consiste na perturbação da capacidade de reconhecimento de rostos e outros tipos de perturbações de reconhecimento.


A pessoa com esse distúrbio tem dificuldade de reconhecimento de familiares ,amigos e até de si mesmas quando olha no espelho.As causas da prosopagnosia podem ser adquiridas, ou seja, por lesões de traumatismo cranioencefálico, AVC ou doenças degenerativas, ou pode ser por causa desenvolvimental, ou seja, de natureza genética.


A prosopagnosia ainda pode ter outras causas ou comorbidades que dificultam sua etiologia, relacionadas a déficits neurológicos e cognitivos.As crianças que possuem esse distúrbio acabam reconhecendo pessoas e objetos por meio de outros sinalizadores, como por exemplo, cheiro ou odor, tato, etc.


Pessoas com prosopagnosia têm dificuldades de reconhecer pessoas na multidão, porém é um distúrbio diferente do distúrbio autista, no qual o autista raramente procura contato visual.No distúrbio prosopagnosia, a dificuldade de reconhecimento leva a memorização de outros aspectos para identificação, como compensação da falta da imagem facial.

Reconhecer e identificar as imagens de rostos são atividades distintas no cérebro, o qual utiliza de regiões responsáveis distintas.Esse distúrbio atinge cerca de 2% da população, afetando tanto homens como mulheres. O fator hereditário é responsável por 50% dos casos.


O tratamento desse distúrbio ainda é limitado e consiste no auxílio ao paciente para descobrir e ganhar habilidades em novas formas de reconhecimento de rosto. O agravamento deste distúrbio pode deixar a pessoa incapacitada e provocar outros distúrbios comportamentais e psicológicos, como irritação, medo, afastamento, isolamento, dependência, etc.


Veja mais sobre prosopagnosia, dificuldades de reconhecimento de rostos e faces, distúrbios cognitivos, distúrbios comportamentais, autismo, acesse estas categorias no site ou clique nos links desta página.

14 dezembro 2009


Trem do futuro (montado pelo Matheus)
Matheus agora tem feito arte, são carros em papel para montar, esse trem deu um trabalho mas como é típico dele, ficou dias montando e não sossegou enquanto não viu ele pronto, pra quem ainda não conhece essa arte e para quem gostaria de conhecer deixo alguns links para visita.

São os chamados papercraft, paper toys etc são desde carros, bonecos, e muitas coisas que a garotada gosta e adultos também, até eu me diverti é uma terapia muito interessante,então seguem os links.

http://www.papercraft.com.br/
http://www.sr-fraude.com/
http://blogs.abril.com.br/papercraftgenial
http://tecnologia.uol.com.br/dicas/internet-redes/2009/11/20/ult6048u20.jhtm

Se colocar no Google você pode achar vários sites e vários downloads desses incríveis brinquedos.
Divirtam-se!

12 dezembro 2009

A deficiência é uma vergonha

Texto de Fábio Adiron fala sobre como a mídia lida com pessoas com deficiência em notícias

Fábio Adiron

As notícias geralmente repetem um discurso muito parecido: "apesar da deficiência ele conseguiu fazer isso ou aquilo". "fulana supera suas limitações", "fulano trabalha como se fosse um funcionário normal"... e por aí vamos.

Que esse discurso parta de pessoas que acham normais e se surpreendam com as conquistas de pessoas com deficiência me incomoda, mas é compreensível. Afinal de contas elas não estão acostumadas com o fato de que alguém considerado subnormal tenha capacidade para realizar uma série de coisas.

O que incomoda mesmo é esse discurso na boca das pessoas com deficiência ou dos seus parentes.Pessoas que se dizem convertidas ao credo da diversidade, que reclamam quando a diversidade não é respeitada, que xingam os leigos quando usam expressões como as que citei acima.

E são as mesmas pessoas que dariam a vida para não ser como são. Diversas.Para elas a diversidade tem valor, mas poderia ter valor nos outros ou nos filhos dos outros, não nelas ou nas suas casas.

Pessoas que entendem que a única solução aceitável para a deficiência com as quais convivem é a busca incessante da cura (se achassem mesmo que a diversidade tem valor, para que curar?)

Pessoas que só vêem valor quando as pessoas com deficiência desempenham atividades que as iguale à normalidade em que acreditam.Sim, são pessoas que acreditam que "deficiente bom é deficiente quase normal". Que se envergonham das suas deficiências.

Nunca vão lutar pela construção de um mundo que seja bom para todos. Acreditam que esse mundo já existe, e é o mundo dos normais.Alguém pode me retrucar dizendo: "mas não é bom ter uma deficiência". E eu questionaria o por quê. A deficiência não faz parte da natureza daquela pessoa?

Se o objetivo é mudar a natureza das pessoas, eu poderia declarar (com o mesmo conceito) que não é bom ser negro, não é bom ser baixo, não é bom ser careca, portanto preciso "curar" essas pessoas para que elas sejam felizes.Amanhã se comemora o dia internacional da pessoa com deficiência. Exatamente o que vamos comemorar? O reconhecimento da diversidade como valor, ou a conquista de normalidades?

Acompanhem o noticiário e depois me digam.

03 dezembro 2009

COMISSÕES / Direitos Humanos

Especialistas pedem mais investimento público no tratamento do autismo

Ao afirmarem que autismo tem cura, participantes de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) exigiram políticas públicas direcionadas ao problema e mais investimentos em pesquisa para diagnosticar a doença de forma precoce.

A coordenadora de política mental do Ministério da Saúde, Cristina Hoffman, afirmou que o assunto é uma das prioridades. Ela destacou que o transtorno deve ser tratado com atendimento integral e de forma multidisciplinar e individualizada. Também o acompanhamento da família, destacou, é importante para garantir o sucesso do tratamento e a recuperação da criança autista.

Também na avaliação da diretora presidente da Associação em Defesa do Autista (Adefa), Julceli Antunes, é necessário envolvimento de profissionais das áreas de saúde e educação - como médicos, nutricionistas e educadores -para tratar pessoas com autismo e os políticos tem papel de garantir recursos para os tratamentos.

A Biomédica e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, Mariel Mendes, explicou que crianças sensíveis podem desenvolver o autismo em razão de alergia a açúcar e glúten ou pela intoxicação com algumas substâncias encontradas em alimentos industrializados. Essas crianças, enfatizou, não estão preparadas para receber tantas toxinas porque seu organismo não consegue eliminá-las. Ela defendeu investimento em pesquisa para detectar os agentes intoxicantes e assim poder fazer prevenção.

Nos Estados Unidos e na Europa, informou a psicóloga Sandra Cerqueira, os portadores de autismo têm sido recuperados com resultados rápidos e eficientes. Ela também enfatizou que é possível reverter uma situação de autismo, desde que o poder público considere o problema como "causa urgente" e faça os investimentos necessários. Ela disse que o tratamento envolve terapia comportamental, aliada à dieta alimentar e tratamento biomédico.

Berenice Piana de Piana, que representou as mães de autistas, informou que, atualmente, nos Estados Unidos, há uma criança autista para cada 90 nascimentos. No Brasil, ressaltou, não há estatísticas sobre o número de pessoas nessa condição.

- Os números apontam que algo grave está acontecendo. Que geração teremos? Uma geração de autistas. Sempre perguntam que planeta deixaremos para nossas crianças, mas pergunto que crianças deixaremos para o nosso planeta - ao afirmar que o número de portadores do transtorno está aumentando.

Incompetência

A diretora do Movimento Orgulho Autista do Brasil, Maria Lúcia Gonçalves, informou que há poucos de profissionais competentes para diagnosticar autismo precocemente. Como exemplo de tal carência, ela informou que, no Brasil, há três psiquiatras para cada 100 mil pessoas com menos de 20 anos e com transtornos severos.

O militar Ulisses da Costa Batista, pai de um menino autista, cobrou do Estado diagnóstico precoce para que os pediatras possam detectar o autismo precocemente e seja possível iniciar o tratamento ainda em bebês.

Iranice do Nascimento Pinto, representante da Associação de Pais e Amigos de Pessoas Autistas Mão Amiga, disse que, na maioria das vezes, as crianças autistas são cuidadas pelas mães. Em caso de morte da mãe, alertou, essas crianças sofrem por não saberem se comunicar com outras pessoas e por não haver, em âmbito público, profissionais especializados para cuidar delas.

- É uma sentença para os pais saber que o filho é autista e que não há tratamento na rede pública - disse o deputado estadual do Rio de Janeiro Audir Santana.

Projeto

As entidades vão apresentar projeto de lei à CDH com as reivindicações dessa parcela da população. O senador Paulo Paim (PT-RS) disse que vai pedir ao presidente do colegiado, senador Cristovam Buarque (PDT-DF), a relatoria da matéria. Paim também prometeu levar a proposta à Câmara dos Deputados, Casa na qual tramita o Estatuto da Pessoa com Deficiência (PL 3638/00), de autoria de Paim, para que os deputados incluam as necessidades dos autistas no projeto.

O debate foi uma iniciativa do vice-presidente da comissão, senador Paulo Paim. A audiência, que emocionou os presentes, teve início com Saulo Pereira, autista de 25 anos, cantando Ave Maria, e foi encerrada com O Sole Mio e Quem Sabe? Pereira também toca piano e fala Inglês, alemão e italiano.

Participaram da audiência pública entidades dos estados de Alagoas, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Amazonas, Goiás e Santa Catarina.

Iara Farias Borges / Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)